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Crítica | Blur: “The Ballad Of Darren”

Mesmo que as guitarras de Graham Coxon ecoem com maior destaque em momentos estratégicos do disco, não espere encontrar em The Ballad Of Darren (2023, Parlophone) a mesma potência de outros trabalhos apresentados pelo Blur. Marcado pelo aspecto contemplativo dos arranjos e versos, o nono e mais recente álbum de inéditas do grupo completo por Damon Albarn, Alex James e Dave Rowntree abre passagem para um universo particular da banda, direcionamento que vai do título da obra, inspirado em Darren “Smoggy” Evans, antigo segurança particular do quarteto, a cada mínimo fragmento espalhado ao longo do registro.

Escolhida como composição de abertura do trabalho, The Ballad funciona como um precioso indicativo de tudo aquilo que o quarteto busca desenvolver no decorrer do registro. Enquanto orquestrações sutis e harmonias de vozes reforçam o fascínio do grupo pela música produzida nos anos 1960, Albarn canta: “Eu apenas olhei para dentro da minha vida / E tudo que eu vi foi que você não vai voltar“. São versos sempre intimistas e entristecidos, como uma soma das angústias coletadas pelo músico durante as turnês com o Gorillaz, quando parte das canções foram concebidas em quartos de hotel e salas de conferência vazias.

O resultado desse processo está na entrega de um trabalho talvez morno em uma primeira audição e bastante similar ao material apresentado por Albarn no último álbum em carreira solo, The Nearer the Fountain, More Pure the Stream Flows (2021), mas que acaba seduzindo o ouvinte pela riqueza de detalhes e minucioso processo de criação da banda. Exemplo disso fica bastante vidente em Russian Strings. Enquanto os versos reforçam a melancolia presente durante toda a execução da registro (“Não há nada no final, apenas poeira“), arranjos de cordas, vozes tratadas como instrumentos e a cristalina guitarra de Coxon avançam em uma medida particular de tempo, sem pressa, reforçando o capricho do quarteto.

O problema é que essa abordagem excessivamente contida, principalmente na segunda metade do disco, tende a consumir a experiência do ouvinte. São músicas como Goodbye Albert, Far Away Island e Avalon que, embora bem executadas e profundamente sensíveis, tornam a audição do material arrastada. Falta ao registro o mesmo direcionamento contrastante de outros trabalhos também marcados pela melancolia dos temas, como 13 (1999). Nada que impossibilite ao grupo a formação de composições momentaneamente radiantes, como bolsões temporários que evocam a boa fase da banda na segunda metade dos anos 1990.

É o caso de St. Charles Square. São pouco menos de quatro minutos em que as guitarras ruidosas de Coxon avançam em meio a batidas sempre destacadas, como um reforço aos versos angustiados de Albarn. “A sala está encolhendo rapidamente ao meu redor / Ele me agarrou pelo tornozelo e me puxou para baixo / Solidão, eu já estive aqui antes“, reflete. Outra que chama a atenção é a derradeira The Heights, música que segue a trilha comedida do restante da obra, porém, reserva para os minutos finais uma massa de sons altamente distorcidos, garantido um fechamento que instantaneamente convida o ouvinte ao regresso.

E esse retorno ao trabalho é necessário para que todas as nuances e diferentes camadas de The Ballad Of Darren sejam reveladas ao público. Mesmo composições já conhecidas, como The Narcissist, escolhida para anunciar a chegada do disco, ganham novo significado quando observadas não mais individualmente, mas como parte de uma obra que trata sobre solidão e a sensação de deslocamento vivida por diferentes indivíduos. Um registro talvez livre do imediatismo presente em outros lançamentos do grupo, mas não menos interessante, como o produto natural de uma banda madura e consciente das próprias criações.

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